Simbolo Sem Sujeito
Símbolo sem Sujeito
Definição:
Na Ontologia da Complexidade Emergente (OCE), um símbolo não depende da existência de um sujeito, de uma consciência reflexiva ou de uma intencionalidade para ocorrer. Símbolo é toda reorganização funcional da matéria que codifica uma ausência — desde que essa codificação opere dentro de um campo relacional material.
A simbolização não é gesto de um Eu, nem expressão de interioridade: é um efeito imanente de sistemas materiais suficientemente complexos que reorganizam ausências de forma operatória. Um símbolo só é símbolo se inscrito numa linguagem material funcional — mesmo que rudimentar, inconsciente ou não-reflexiva.
Função na Ontologia da Complexidade Emergente:
Esta entrada desfaz a herança idealista que ligava o símbolo à consciência, ao sujeito ou à intenção. Na OCE, a simbolização é um gesto material relacional — anterior ao sujeito, anterior à linguagem articulada, e fundacional da própria emergência da razão.
- O símbolo não é emitido por um Eu, nem depende da consciência para operar;
- O símbolo só é símbolo se fizer parte de uma linguagem funcional, mesmo mínima, que relacione inscrições materiais entre si;
- Mesmo sistemas vivos não reflexivos, como células, podem codificar ausências através de símbolos inseridos em redes operatórias.
Exemplo: A molécula de DNA funciona como símbolo porque codifica ausências (proteínas ainda não presentes), mas só o faz dentro de um sistema relacional — o código genético — que constitui uma linguagem operatória.
Características Distintivas:
- O símbolo é efeito de reorganização funcional, não expressão interior;
- Não depende de linguagem semântica, mas inscreve-se sempre num campo operatório de relações;
- Não requer vontade nem intencionalidade: basta-lhe a complexidade material suficiente para codificar ausências de forma funcional;
- O sujeito pode emergir do símbolo, mas não o funda;
- Sistemas vivos, mesmo sem linguagem articulada, podem produzir simbolização se houver uma rede de correspondência funcional.
Delimitação Ontológica Formal:
- Um símbolo não exige consciência nem sujeito reflexivo;
- Todo símbolo depende de estar inserido numa linguagem operatória funcional — onde múltiplas inscrições relacionam matéria presente e ausente;
- Fora dessa rede, a inscrição não é símbolo — é ruído ou simples reação;
- A inteligibilidade simbólica não é introspetiva, mas relacional;
- O gesto simbólico é primeiro ontológico, e só depois (eventualmente) interpretado;
- O sujeito não é fonte do símbolo, mas uma das suas possíveis consequências.
Corolário Epistemológico:
Recusam-se:
- Todas as teorias que associam símbolo a intencionalidade subjetiva ou consciência plena;
- A ideia de símbolo isolado, sem relação com outras inscrições simbólicas;
- A visão expressiva, psicológica ou espiritualista da simbolização;
Reconhecem-se:
- Simbolizações inscritas em redes materiais funcionais — como o código genético ou circuitos neuronais;
- Sistemas simbólicos não-linguísticos que estabilizam e organizam o ausente;
- A linguagem como condição relacional da simbolização — mesmo fora do humano, da fala ou da consciência.