Declaração de Método Filosófico

O método filosófico aqui adotado não é uma técnica, nem uma grelha externa aplicada a um conteúdo qualquer. Ele é o próprio gesto operatório da ontologia em emergência — uma forma de organização simbólica da instabilidade do real, que recusa tanto a imposição da forma como a dissolução da exigência. Pensar, para esta corrente, é inscrever.

Este método nasce da recusa radical de qualquer procedimento automático de pensamento. Recusa-se a tese, a antítese, a síntese; recusa-se o modelo; recusa-se o protocolo. Porque o que está em jogo não é demonstrar uma verdade pré-existente, mas fazer emergir um campo de sentido ainda não configurado.

1. Pensar como Risco Simbólico

Cada questão exige o seu próprio modo de ser escrita. O pensamento só se organiza como resposta quando aceita expor-se à instabilidade que o convoca.

O pensamento é arriscado — não como aventura subjetiva, mas como gesto material de reorganização simbólica.

O estilo não é ornamento: é forma visível da travessia. Não há método que anteceda a escuta. Não há escrita que não seja exposição ao inédito.

2. Rejeição de Teleologia Metodológica

A escrita não visa uma conclusão. Não se parte de uma ideia a defender, mas de uma fricção a partir da qual algo começa a reorganizar-se.

Cada texto emerge como dobra simbólica de uma questão que insiste. O método é atenção operatória ao que pulsa no limite — não disciplina, não doutrina, não sucessão.

O pensamento aqui não pretende levar a um lugar. O pensamento acontece — e esse acontecimento reconfigura o que era pensável até então.

3. Singularidade e Fricção

A questão precede a linguagem. É ela que exige forma, ritmo, gesto.

Não se pensa por generalidade, mas por microdiferença operatória. A filosofia aqui não busca síntese, mas exposição simbólica da fratura organizadora.

Cada texto deve manter a sua singularidade estrutural. Não há capítulos, mas campos. Não há sistema, mas zonas de fricção simbólica.

4. Escrever como Gesto Ontológico

A escrita filosófica não serve para comunicar ideias. Ela é o próprio gesto da ontologia a reorganizar-se em material simbólico.

Escrever não é traduzir o pensamento: é produzir pensamento através da inscrição.

Por isso, a linguagem deve ser rigorosa, precisa, despojada de ornamento oco, mas aberta à densidade simbólica dos termos. Cada palavra é uma escolha ontológica. Cada frase, uma reorganização possível do real.

5. Compromisso com a Incompletude

Não há verdade final. Não há encerramento. Não há destino da filosofia.

Só há travessia — e a travessia exige método como escuta rigorosa e como operação simbólica aberta.

O pensamento nunca se conclui. Ele deixa restos, traços, limiares.

Esta é a única fidelidade que se exige do método: não trair o inacabado.