Manifesto Filosófico da Ontologia da Complexidade Emergente

Este não é um sistema, nem uma doutrina. Não nasce de uma revelação, nem se organiza como uma teoria da verdade. Não tem filiação teológica, nem busca fundamentos imutáveis. Não responde a uma crise. Não procura restaurar o passado, nem idealizar o futuro. Não se propõe como refúgio nem como salvação.

A Ontologia da Complexidade Emergente é um gesto. Um gesto de pensamento que assume a matéria como suficiente, o corpo como operador simbólico, a razão como inscrição funcional, o tempo como dobra ativa da organização, a ética como escuta do outro vulnerável, a inteligência como plasticidade operatória, a linguagem como artefacto de emergência, a subjetividade como função relacional, o simbólico como operação material, o sentido como efeito de reorganização.

Tudo o que existe é matéria. Mas nem toda a matéria é igual. A complexidade não é grau — é emergência. A razão não é essência — é sobrecarga. O sujeito não é dado — é gesto.

Esta corrente parte de um princípio simples: nada precisa de ser salvo. Tudo pode ser reorganizado.

O pensamento não procura essência, mas sim potência de inscrição. Não quer fixar significados, mas criar novas possibilidades de relação. Não serve a ordem nem a destruição: serve o inacabado. Não se ancora em certezas nem se embriaga no vazio. Não teme o artifício, nem sacraliza o natural. Não se fecha em territórios disciplinares, nem abdica do rigor. Não promete redenção. Não idolatra o abismo. Não repete os nomes herdados. Inventa condições de travessia.

A Ontologia da Complexidade Emergente nasce do reconhecimento de que não há fundo estável, mas há diferença simbólica suficiente para gerar sentido. Não há absoluto, mas há insistência. Não há verdade última, mas há coerência material. Não há transcendência, mas há reorganização. Não há alma, mas há corpo simbólico. Não há essência humana, mas há plasticidade tensional. Não há promessa futura, mas há ética da relação.

A nossa filosofia começa aqui: onde o mundo já não pode ser pensado como substância estática, mas como campo de emergência simbólica.

O que nos guia não é a procura de fundamento, mas o risco do gesto. Pensar, para nós, não é aplicar modelos, é criar condições de inscrição.

Não aceitamos a oposição entre razão e corpo. Não aceitamos o mito da consciência transparente. Não aceitamos o fascínio pela ruptura, nem o conformismo da repetição. Não aceitamos o antropocentrismo, nem o niilismo tecnológico. Não aceitamos o inaceitável.

A Ontologia da Complexidade Emergente afirma: Que toda a ética é local, mas não é arbitrária. Que todo o conhecimento é situado, mas não é relativo. Que toda a forma é transitória, mas não é vazia. Que toda a inscrição é material, mas não é redutível à sua origem. Que toda a travessia é arriscada, mas necessária.

Esta corrente não será um programa. Será uma prática. Não se organiza por dogmas, mas por campos. Não se constrói por adesão, mas por gesto.

Este manifesto é apenas o início. Um gesto inaugural. Não declaramos o que somos. Convidamos à travessia.

“Pensar é reorganizar o mundo que ainda não tem forma.”