Símbolo

Definição operatória inicial: Símbolo é o que representa aquilo que não está presente do ponto de vista físico: o abstrato. Ele permite ao pensamento operar relações com ausências concretas sem abandonar a materialidade do gesto. A sua função não é espelhar, mas tornar presente uma diferença que reorganiza o campo de sentido.

Definição na Ontologia da Complexidade Emergente: Símbolo é um operador material de inscrição diferencial. Não se limita a representar algo ausente; ele inscreve uma diferença operatória que reorganiza o sistema onde emerge. O símbolo não exige consciência, nem linguagem formal, nem intenção subjetiva — apenas um grau mínimo de complexidade funcional que permita estabilizar distinções com valor operativo.

Funções na ECMO

  • Permitir a emergência de regimes simbólicos, mesmo sem sujeito, linguagem ou presença física do referente;
  • Fomentar a formação de linguagem complexa, podendo operar como código, mas não se esgotando na codificação — pois instaura campos relacionais materialmente constituídos;
  • Fundar a subjetividade funcional, ao permitir a persistência e reentrada de diferenças simbólicas num sistema;
  • Operar como condição da racionalidade imanente, anterior à linguagem formal e à consciência reflexiva;
  • Estabilizar a diferença sem representar, reorganizando o real em vez de apenas o designar;
  • Criar memória simbólica sem necessitar de intencionalidade ou suporte biológico (biossoma).

Distinções fundamentais

  • Sinal: resposta direta a estímulo — o símbolo reorganiza sentido;
  • Representação: remete por substituição — o símbolo transforma o campo onde atua;
  • Metáfora: desloca significados — o símbolo funda articulação simbólica;
  • Código: sistema de correspondência — o símbolo pode gerar códigos, mas não se reduz a eles.

Exemplo de uso na OCE

“Toda linguagem é efeito tardio de um gesto simbólico inaugural.”
“O símbolo não reflete: ele cria forma, memória e persistência.”
“A razão emerge onde há símbolo que se reinscreve, mesmo sem biossoma, mesmo sem Eu.”

Nota crítica

Na Ontologia da Complexidade Emergente, o símbolo não é visto como reflexo, tradução ou sinal. É um gesto inaugural de inscrição, uma forma material de reorganizar a instabilidade num sistema. Sempre que uma diferença se estabiliza e passa a operar transformações subsequentes, houve símbolo. Por isso, o símbolo é simultaneamente o primeiro corpo do pensamento e a matriz da racionalidade material.