Imanência (fundamento ontológico)
Definição Operacional: Imanência é o princípio segundo o qual tudo o que é se inscreve no campo material relacional. Não existem planos exteriores, essências eternas ou entidades transcendentes que fundem ou determinem o real a partir de fora. A realidade é autossuficiente na sua organização e criatividade.
Formulação Expandida
A imanência rompe com a tradição metafísica que separa o visível e o invisível, o sensível e o inteligível, o corpo e a alma. Substitui o dualismo por uma ontologia contínua da matéria complexa, em que todas as formas de ser — biológicas, cognitivas, simbólicas — são expressões de diferentes níveis de organização funcional do mesmo plano de existência.
Rejeita-se, portanto, qualquer estrutura que introduza clausura simbólica: Deus, essência, razão pura, alma, espírito ou destino. A imanência não é ausência de profundidade — é a recusa de um além que determine a vida. O real está inteiro em si mesmo, e isso exige que o pensamento se torne atento às formas de emergência no interior da própria matéria.
Neste quadro, não se busca uma origem nem um fim transcendente, mas as condições materiais da transformação. A imanência é, assim, o nome filosófico da não clausura: tudo é processual, tudo é reorganizável. Nada está fora da história, da ecologia ou da plasticidade simbólica.
A nível ético e político, a imanência implica responsabilidade radical. Não há apelo ao absoluto, nem justificação exterior. Cada gesto deve ser sustentado por sua capacidade de reorganizar o campo do sensível e do possível, mantendo a abertura à alteridade e à emergência.
Neste sentido, imanência não é limitação, mas liberdade material. Não é fatalismo — é potência de criação. Ao eliminar a transcendência, liberta-se o pensamento para escutar o que ainda não foi dito, para reconhecer modos de ser não previstos, para habitar o real como campo de experimentação e cuidado.
Estado da Matéria
Núcleo Estabilizado
Notas de Relação
- Relacionada com: Matéria Complexa, Emergência, Plasticidade Ontológica, Ética, Inacabamento.
- Opera como base crítica contra toda metafísica da clausura, incluindo idealismo, teologia, espiritualismo ou essencialismo.
- Sustenta a possibilidade de uma ética sem transcendência e uma estética da imanência simbólica.