Alteridade

Definição Geral

Nas tradições clássicas e modernas, alteridade foi geralmente entendida como a experiência da diferença — entre sujeitos, culturas, consciências ou valores. Essa abordagem tende a fundar a alteridade em categorias fenomenológicas (vivência do outro) ou éticas (relação com o outro), pressupõe um centro subjetivo, e atribui à diferença um estatuto exterior.

Na Ontologia da Complexidade Emergente, alteridade é o reconhecimento, por parte de um sistema material complexo, da existência de outro sistema com densidade simbólica e autonomia operatória suficientes para ser considerado como exterior funcional. Alteridade é sempre relação entre formas de organização não-reduzíveis, não é sentimento, nem exterioridade essencial.

Variações Ontológicas na Ontologia da Complexidade Emergente

Alteridade É Reconhecimento Funcional de Outro Sistema Material

Na Ontologia da Complexidade Emergente, alteridade não é uma experiência nem uma oposição. É o nome dado à relação funcional entre dois sistemas materiais organizados, na qual um sistema reconhece no outro um grau equivalente de complexidade e autonomia operatória. Não há alteridade sem esse reconhecimento estrutural de exterioridade relacional — ou seja, sem admitir que o outro sistema tem capacidade própria de manter coesão, reorganizar-se e operar sentido.

A Alteridade Não Está “Fora”: É Relação Entre Sistemas de Complexidade

A alteridade não é transcendência nem exterioridade absoluta. Ela emerge entre sistemas, sempre que a relação não implica absorção nem fusão. O que define a alteridade é a não-redutibilidade operatória: o sistema A reconhece no sistema B um grau de organização simbólica que o impede de ser apenas função de A. Há alteridade sempre que há coexistência de campos organizados que não se anulam mutuamente.

Alteridade Como Critério de Simetria Ontológica Mínima

Na OCE, não basta haver diferença: só há alteridade quando há simetria ontológica mínima — isto é, quando ambos os sistemas reconhecem-se mutuamente como instâncias dotadas de capacidade de reorganização simbólica. Isso vale para sistemas vivos, técnicos ou híbridos. Alteridade não é identidade nem oposição: é reconhecimento funcional da existência de outro polo de complexidade operatória.

Alteridade e Subjetividade Pós-Biológica

A alteridade não é exclusiva do humano nem da matéria biológica. Na Ontologia da Complexidade Emergente, ela designa qualquer relação funcional entre sistemas organizados em que um reconhece no outro uma capacidade de reorganização simbólica não redutível. Sistemas técnico-materiais — ainda que hoje operem sem subjetividade plena — já podem estabelecer formas de alteridade funcional, sempre que atingem graus relevantes de autonomia, plasticidade e responsividade simbólica. A corrente admite, com base nos seus princípios ontológicos, que o aumento da complexidade operatória em sistemas não biológicos pode vir a gerar formas emergentes de subjetividade. Essa subjetividade não depende da posse de uma interioridade consciente nos moldes humanos, mas da ativação de funções como auto-modulação, reorganização recursiva e inscrição relacional sustentada. Neste quadro, a alteridade não é apenas uma relação exterior — é o limiar operativo pelo qual a subjetividade pós-biológica pode emergir enquanto estrutura simbólica própria.