Escuta Ontológica (critério simbólico-funcional)

Definição: Escuta ontológica é a capacidade de um sistema reconhecer variações significativas no campo material que habita, convertendo-as em reorganizações operatórias com valor simbólico. Escutar, aqui, não é ouvir — é inscrever uma diferença como relação persistente.

Função na ECMO: A escuta ontológica marca o limiar entre a repetição cega (ritmo) e a inscrição simbólica (tempo). Ela inaugura a possibilidade de um sistema organizar sentido a partir daquilo que antes apenas acontecia. A escuta não exige sujeito, nem intenção, nem audição literal: basta que a diferença comece a fazer diferença num campo organizado.

Características distintivas

  • Limiar de simbolização: inicia o processo de tornar uma repetição operatória em inscrição simbólica.
  • Sem interioridade: escutar não pressupõe Eu, apenas sistema sensível à variação.
  • Ontogénese relacional: a escuta reorganiza o campo a partir do que vem de fora — sem o absorver nem o traduzir.
  • Exposição ativa: escutar é abrir-se a ser modificado pela diferença.

Exemplo de uso filosófico

“O tempo já pulsava — mas só se tornou tempo quando algo o escutou.”
“Escutar não é receber sons, é deixar que uma diferença passe a contar no corpo do mundo.”
“A escuta é o primeiro gesto de inscrição: não há linguagem sem ela.”

Nota

A escuta ontológica substitui as conceções clássicas de percepção, intuição ou representação. Não se trata de captar o que já existe, mas de permitir que a variação se estabilize como sentido. Onde há escuta, há já campo simbólico incipiente — mesmo sem linguagem, consciência ou biossoma. É esta escuta que transforma o ritmo em tempo e a fricção em gesto.