Emergência (fundamento ontológico)

Definição Operacional: No Emergentismo, emergência designa a aparição de propriedades qualitativamente novas que não podem ser reduzidas à soma ou simples interação dos elementos de um sistema. Estas propriedades, ao emergirem de reorganizações da matéria complexa, possuem eficácia ontológica própria: operam simbolicamente e reconfiguram o campo do real.

Formulação Expandida

A emergência rompe com dois paradigmas clássicos: o reducionismo mecanicista, que busca explicações nas partículas elementares e leis invariantes; e o espiritualismo dualista, que recorre a entidades imateriais para justificar a interioridade, o valor ou o sentido. O emergentismo propõe uma via imanente: uma criatividade estrutural da matéria que se expressa como diferença organizada e imprevisível.

Diz-se que há emergência quando um sistema, ao atingir determinado limiar de complexidade, passa a integrar informação, modulação e resposta de forma não dedutível a partir das suas partes isoladas. A nova propriedade não decorre por acréscimo quantitativo, mas por reconfiguração qualitativa do sistema. O todo, assim, não é mais do que a soma — é outra coisa, com propriedades próprias e regime funcional novo.

Este fenómeno implica plasticidade e instabilidade criativa. A emergência não é programada nem universalmente repetível: resulta de condições dinâmicas, históricas, ecológicas e relacionais. Cada emergência é única, mesmo que parcialmente reconhecível. A sua singularidade reside precisamente na forma como reorganiza o possível num dado regime de matéria.

A filosofia inspirada nesta conceção abandona a busca por essências eternas e volta-se para as condições materiais e relacionais que tornam possível a emergência de novos modos de ser. A realidade não é catálogo de entes, mas campo de transformação. Emergência é, neste sentido, o nome da ontogénese ativa do real.

Estado da Matéria

Núcleo Estabilizado

Notas de Relação

  • Conceitos diretamente relacionados: Matéria Complexa, Plasticidade Ontológica, Organização Funcional, Inacabamento, Subjetividade Funcional.
  • Relevante nos domínios: ontologia da consciência, ética da resposta, estética da criação simbólica, epistemologia crítica.
  • Fundamenta a distinção entre sistemas vivos, artificiais e simbólicos segundo sua capacidade de produzir novas formas operativas.